Em nossa jornada de autodescoberta nessa vida, existem dores, dificuldades, erros e fracassos – tanto quanto felicidade, empolgação e sucesso. Imagine que um amigo próximo seu tenha ido muito mal em uma prova importante e esteja se sentindo mal. Como você falaria com ele nesse momento difícil para apoiá-lo, compartilhar seus sentimentos e fazer com que ele veja seus pontos fortes?
Imagine você nessa mesma situação e observe as semelhanças e diferenças entre a conversa que você teria consigo mesmo e a que teria com o seu amigo. Para muitos de nós, há uma grande diferença entre os dois.
Quando as pessoas cometem erros ou fracassam, a compreensão que mostramos para com elas por algum motivo pode não ser a mesma quando se trata de nós mesmos. Nossa compreensão e nossa postura na hora de apoiar nossos entes queridos, parentes e até mesmo estranhos torna-se dura e crítica quando somos nós que cometemos o erro. Praticamente todos nós vivemos isso em nossas vidas diárias. “Você estragou tudo!”, “Você não consegue fazer nada direito!”, “Você fez besteira de novo.” São frases que não usamos com pessoas que não conhecemos. No entanto, muitas vezes podemos falar contra nós mesmos neste tom crítico e cruel, e nos julgarmos e nos culparmos quando sofremos – justamente no momento em que mais precisamos de apoio e compaixão.
A Autocompaixão é a primeira e mais importante coisa que você precisa para diminuir essa voz crítica e cruel que você usa consigo mesmo quando passa por momentos difíceis. Isso ocorre porque a maneira mais básica de construir um relacionamento saudável com nós mesmos é perceber nossos sentimentos e pensamentos – conseguindo mostrar a nós mesmos a compreensão e compaixão das quais necessitamos.
O conceito da autocompaixão é algo que temos ouvido muito nesses últimos anos. Muitos estudos falam da importância da relação entre mindfulness e autocompaixão. Pois bem, o que é a autocompaixão e o que devemos entender quando falamos sobre ela?
O Que é a Autocompaixão?
A Dra. Kristin Neff, da Universidade de Austin-Texas, junto do psicólogo clínico e instrutor de meditação Dr. Christopher Germer são os dois nomes mais proeminentes no estudo da autocompaixão.
Uma das pioneiras no campo da pesquisa em relação a esse assunto, a Dra. Kristin Neff, define a autocompaixão como tratar a nós mesmos com cordialidade e compreensão quando sofremos, fracassamos, ou nos sentimos mal; da mesma forma como trataríamos um amigo – em vez de ignorarmos nossa dor ou nos criticarmos.
A autocompaixão pode parecer algo muito “autocentrado” para alguns. Ter compaixão por nós mesmos pode ser percebido como resultado de estarmos nos vendo em um nível superior, ao nos separarmos dos outros. No entanto, é muito pelo contrário: a autocompaixão diz respeito a vermos a nós mesmos como parte da humanidade comum; em outras palavras, reconhecer que somos tão dignos de respeito e compaixão quanto todas as outras pessoas. A autocompaixão nos permite abraçar nossa dor e nossas experiências – à medida em que vemos que podemos sentir e passar por coisas semelhantes às muitas outras pessoas.
A autocompaixão também não deve ser entendida como ter pena de si mesmo. Quando as pessoas têm pena de si mesmas, elas se perdem em suas emoções e esquecem que outras pessoas podem ter os mesmos problemas; muitas vezes começando a pensar que são as únicas com esse problema. O ato de autocompaixão é o resultado de se ver como parte de uma experiência compartilhada com os outros, em vez de se posicionar como um ser separado e independente.
Os 3 Componentes da Autocompaixão
Kristin Neff afirma que a autocompaixão consiste em três componentes básicos. Eles são:
1. Autogentileza
Tratarmos a nós mesmos com gentileza e compreensão, em vez de sermos crítico e julgarmos demais – esse é o primeiro elemento da autocompaixão. Em algumas ocasiões, em vez de se ficar se sentindo mal e se culpando, seria muito melhor você chegar à conclusão que está fazendo o melhor que pode.
2. Humanidade Comum
O senso comum de humanidade é ver que o que vivenciamos não é uma experiência isolada, mas que todas as pessoas passam por coisas parecidas e, portanto, temos de entender que isso é uma parte comum da nossa humanidade. Todo mundo comete erros e ninguém é perfeito. Nós também fazemos parte desses erros e imperfeições. Olhando para nós mesmos a partir dessa perspectiva ampla, podemos mostrar a mesma compaixão que mostramos aos outros.
3. Mindfulness
A autocompaixão começa com o reconhecimento da nossa dor. Um dos elementos mais básicos da autocompaixão está relacionado a percebermos nossos pensamentos e sentimentos dolorosos; e então observá-los com consciência de uma forma equilibrada, sem se perder nesses sentimentos e pensamentos – sendo capaz de olhar para a realidade do momento sem fazer julgamentos.
A Relação entre a Autocompaixão e o Mindfulness
Para mostrarmos compaixão por nós mesmos, precisamos primeiro estar conscientes quanto aos nossos pensamentos e sentimentos de dor. Muitas vezes, podemos não perceber essa dor porque ela é causada por nossas críticas e julgamentos – ou seja, por razões internas. No entanto, com o mindfulness, observar nossos sentimentos e pensamentos com consciência clara e sem julgamento tornará mais fácil para nós abraçar nossa dor e adotar uma postura de compaixão para com nós mesmos. Dessa forma, o mindfulness é um dos componentes mais essenciais no que diz respeito à autocompaixão.
“O mindfuness nos traz de volta para o momento presente e nos dá o tipo de consciência /equilibrada que constitui a base da autocompaixão. Como uma piscina clara e imóvel sem +ondulações, o mindfulness espelha perfeitamente /-o que está ocorrendo sem distorção. Em vez de nos perdermos em nossa novela pessoal, a atenção plena nos permite ver nossa situação com uma perspectiva mais ampla e ajuda a garantir que não soframos desnecessariamente.”
― Kristin Neff, “Autocompaixão: O Poder Comprovado de Ser Gentil Consigo Mesmo” Tweet
Autocompaixão e Resiliência Emocional
A autocompaixão é um método bem conhecido de lidar com emoções difíceis. Estudos mostram que termos compaixão com nós mesmos aumenta nossa resiliência emocional. Se pudermos adotar uma abordagem mais compreensiva para com nós mesmos, poderemos reconhecer e aceitar mais facilmente nossos erros e medos. Isso torna mais fácil para nós lidarmos com as dificuldades e enfrentar nossos medos.
Através de uma pesquisa, foi provado que pessoas que praticam a autocompaixão sentem menos depressão, ansiedade, e problemas de estresse – e o bem estar psicológico dessas pessoas é melhor.
Resumidamente, a autocompaixão possui muitos benefícios conhecidos – e todos nós precisamos dela.
Tente fazer do ato de autocompaixão uma parte de sua vida, para assim construir um relacionamento saudável consigo mesmo e com os outros nesta jornada.